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Writer's pictureLetícia Kawano-Dourado

Coronavírus e desinformação na saúde

Notícias falsas competindo em pé de igualdade com informações científicas verdadeiras na internet e em mídias sociais.




Post especial, resolvi convidar para falar sobre esse assunto o Caio Machado e o Daniel Dourado, sócios-fundadores da HealthTech & Society, um centro de reflexão e pesquisa independente que tem a missão de promover o debate e a produção de conhecimento na interseção entre as áreas de Direito, Saúde e Tecnologia.


Segue então a reflexão deles sobre a epidemia... de desinformação!


O combate à emergência da infecção humana por um novo Coronavírus – oficialmente denominado “Covid-19” – está se tornando um marco no entendimento e na forma de lidar com um dos maiores problemas de saúde global: a desinformação.

Pouco mais de uma semana após ter declarado a epidemia do Covid-19 uma emergência global, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou medidas para fazer frente à outra verdadeira epidemia – que vem sendo chamada de “infodemia” – que diz respeito à disseminação massiva de informações, muitas delas falsas.


O fenômeno não é novo. Conteúdo fajuto sobre saúde tem sido disseminado desde o período da guerra fria, quando notícias eram fabricadas para atingir a imagem pública de países concorrentes. Um caso famoso foi um boato de que o vírus de AIDS teria sido disseminado pelo governo americano como uma arma biológica.


A desinformação na saúde nunca cessou, por interesses políticos e econômicos, e no final da década de 90 uma pesquisa foi forjada para alegar que a vacinação infantil leva ao autismo. Apesar de desmentida, e comprovadamente equivocada fraudulenta, essa pesquisa continua circulando e sendo usada por muito grupos que rejeitam as orientações e o conhecimento da medicina e dos órgãos de saúde pública.


Muito desse conteúdo tem ganhado força através da internet, inclusive promovendo o surgimento de um mercado paralelo que capitaliza em cima dessa desinformação para vender produtos, como suplementos e remédios “naturais” para doenças graves. Com a epidemia do Covid-19, muitos atores viram a janela de oportunidade para alavancar seu conteúdo fraudulento, alegando conspirações globais.


A OMS reconheceu que a disseminação de notícias fraudulentas e teorias conspiratórias têm prejudicado a resposta ao surto de Coronavírus, espalhando confusão e medo ao público em geral . Por isso, propôs uma nova estratégia: parcerias entre a Rede de Informação da OMS para Epidemias (EPI-WIN) e as maiores redes mundiais de informações, como Google, Facebook e Twitter. Além disso, a OMS tem procurado empresas de tecnologia, como Uber e Airbnb, e até a gigante Amazon em busca de ajuda.

A proposta é que a equipe de gerenciamento de comunicações de risco da OMS rastreie ativamente informações falsas em vários idiomas e conte com o apoio das grandes redes sociais para retirá-las do ar e promover informações precisas de fontes confiáveis. Para isso, estão sendo contactados influenciadores das redes, por exemplo de YouTube e Instagram, para apoiar a divulgação de mensagens de conteúdo verdadeiro, validadas pelas autoridades sanitárias e desconstruir os mitos e as falsas notícias.


Essas medidas devem modificar de modo bastante relevante a comunicação das entidades de saúde global com as pessoas e seu sucesso na epidemia do Covid-19 pode representar o começo de uma nova era tanto na atuação da OMS como da relação entre as empresas de tecnologia e a saúde pública.


Quer ficar longe de conteúdos falsos sobre o Covid-19 (e outros assuntos)? As dicas são:


1. Alimente-se de fontes oficiais confiáveis (OMS, Ministério da Saúde, ANVISA, sites de sociedades médicas) ou de meios de comunicação que fazem checagem de conteúdo antes de publicar (que fazem jornalismo de forma profissional)


2. Reduza o nível de ansiedade sobre o assunto. As noticias falsas, ou fakenews, fisgam as pessoas justamente pelo medo e sensacionalismo. Entenda que essa atualização em tempo real do que acontece no mundo é uma característica do nosso tempo, da nossa conectividade e velocidade de comunicação e não necessariamente um sinal de gravidade. Mais e mais passaremos a ver esse tipo de cobertura da mídia a qualquer evento com potencial "globalizante", como são naturalmente as infecções respiratórias.



Vamos seguir acompanhando a construção do entendimento sobre o Covid-19. Algo novo que mereça um novo post, faremos imediatamente! Por ora, temos um virus respiratório contagioso, com casos restritos basicamente à China e com letalidade provavelmente baixa (tendo em vista o número de infectados).


Caio Machado: Advogado e Cientista Social. Mestre em Ciências Sociais pela University of Oxford e Mestre em Direito e Tecnologia pela Université Paris 1: Panthéon-Sorbonne. Graduado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP). Foi Google Policy Fellow do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio) e Pesquisador do Oxford Internet Institute, no laboratório de Ética Digital e no Projeto de Propaganda Computacional. Cofundador do HealthTech & Society.




Daniel A. Dourado: Médico e Advogado. Pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Direito Sanitário da Universidade de São Paulo (NAP-DISA/USP). Professor de Medicina da Escola de Ciências da Saúde da Universidade Anhembi Morumbi (UAM) em São Paulo e da Pós-Graduação da Faculdade IBCMED. Doutorando e Mestre pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Especialista em Direito Administrativo/Regulatório pela Fundação Getúlio Vargas (FGV Direito SP). Cofundador do HealthTech & Society.



Leticia Kawano-Dourado: Médica e pesquisadora clínica. Doutora em pneumologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Médica Pneumologista do Hospital do Coração. Pesquisadora clínica do Instituto de Pesquisa do Hospital do Coração. Criadora do Projeto Respira Evidência.









Declaração de conflitos de interesse: nenhum


As opiniões aqui veiculadas representam minha posição pessoal, a do Caio e a do Daniel ;-).


Projeto Respira Evidência por Leticia Kawano Dourado




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