Estereótipos de gênero prejudicando a ascensão feminina
Para começar, algumas declarações de personalidades importantes:
"Eu não acho que uma mulher deva estar em qualquer trabalho do governo. Quero dizer, eu não acho não, eu tenho certeza. A razão pela qual eu afirmo isso é principalmente porque elas são erráticas e emocionais. Homens são erráticos e emocionais também, mas o ponto é que é mais provável que uma mulher seja" Richard Nixon, ex-presidente dos Estados Unidos
"Aqui está o meu dilema ... como uma mulher em uma alta posição pública ou buscando a presidência como eu estou, você tem que estar ciente de como as pessoas vão julgá-la por ser "emocional". Então falamos de um equilíbrio muito delicado - pois como você navega o que é ainda uma área nova [da mulher em cargos de liderança] - para ser você mesmo, para se expressar, para mostrar seus sentimentos, mas evitando maneiras que desencadeiem todos os aspectos negativos dos estereótipos de gênero" Hillary Clinton

A crença de que mulheres são mais emocionais que homens é um dos estereótipos de gênero mais fortes da cultura ocidental (Shields, 2002). Em amostragens populacionais nos Estados Unidos, 90% dos entrevistados (homens e mulheres) afirmam que as mulheres são mais emocionais que homens (Gallup 2000). De fato, é uma crença geral que mulheres expressam todas as emoções mais intensamente que os homens à exceção de orgulho e raiva, emoções vistas como mais comumente expressas pelo gênero masculino. E essa maior emotividade feminina é o "estereótipo mestre" sobre o qual vários outros estereótipos se desenrolam.
Outro dado interessante de amostragens populacionais Norte-Americanas evidencia que a maioria dos homens e um terço das mulheres acreditam que a razão principal pela qual mulheres não ocupam tantos cargos de liderança quanto seria esperado é por que mulheres são muito "emocionais". Outra pesquisa mostrou que 25% dos Norte-Americanos concorda que "os homens são mais adequados para cargos políticos que as mulheres"
As teorias psicológicas mais influentes sobre Gênero & Poder têm enfatizado o papel central dos estereótipos de gênero explicando a sub-representação de mulheres em cargos de liderança (Eagly & Carli, 2007; Eagly & Karau, 2002; Heilman, 2001; Heilman & Eagly, 2008; Rudman & Glick, 2001; Rudman, Moss-Racusin, Phelan, & Nauts, 2012). Não só isso, mulheres que se comportam em não-conformidade com o estereótipo cultural vigente merecem ser punidas (Brescoll, 2016).
Ora, o estereótipo cultural vigente é que mulheres são nutridoras, acolhedoras, gentis/doces enquanto homens são assertivos, independentes, dominantes, ambiciosos, objetivos (Eagly & Karau, 2002). Adivinhem qual dos conjuntos de características descrevem o que se espera de líderes? As características associadas ao gênero masculino. E vejam, caso mulheres expressem essas características passarão a estar em não-conformidade com as expectativas do gênero feminino: e merecem punição, não aprovação.
Estamos falando de estereótipos, de preconceitos, não da realidade. É mito que mulheres sejam mais descontroladas, mais emotivas que homens - apenas há nuances de expressão entre generos, e também é verdade que algumas expressões emocionais preferencialmente masculinas são bem tóxicas para o ambiente profissional, diga-se de passagem.

Como explicar as causas do funil observado na figura acima? Os estudiosos do assunto afirmam que os vieses subconscientes de gênero são uma das variáveis da equação, e certamente é uma das mais importantes.
Há uma série de experimentos mostrando os vieses operando em nível subconsciente, como por exemplo: Uma ação de um líder é avaliada por entrevistados, caso o líder seja dito ser uma mulher, naturalmente explicações sobre o lado afetivo da líder entram na avaliação, enquanto que a mesma ação sendo dita ter sido realizada por um líder do sexo masculino não recebe a interpretação emocional que as líderes femininas recebem (Brescoll 2016). É o paradigma "pensou gestor, pensou sexo masculino" (Think Manager, think male) descrito por Fischbach 2015.
E o significado subconsciente de ver mulheres como seres emocionais é vincular emotividade com descontrole emocional e portanto vincular mulheres a serem menos aptas a cargos de liderança, já que controle emocional é uma característica fundamental associada a liderança.
Curioso, vejam que estamos falando do fenômeno dois pesos, duas medidas (double standards): pois homens expressam (e muito!) emoção ou descontrole emocional, mas nos homens em geral essas características são atribuídas a fatores externos e não a traços de personalidade. Além disso procura-se ativamente nas mulheres esses aspectos emocionais mesmo quando não há nenhum indício de que tenha havido expressão ou participação do descontrole emocional em uma ou outra decisão: “Too Nice” “Bossy” “Emotional” (as barreiras ocultas na ascensão de carreira feminina, Harvard Business Review)
Cresce um movimento global chamando a atenção para esses vieses subconscientes e formas de abordá-los de forma precisa e eficiente. Convido a todos com senso de justiça presente que juntem suas vozes a essa causa. A hora é agora.
Declaração de conflitos de interesse: esse projeto é dedicado a minha filha e todas as meninas que vem formando essa nova geração de mulheres.
As opiniões aqui veiculadas representam minha posição pessoal.
Projeto Respira Evidência por Leticia Kawano Dourado
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