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  • Writer's pictureLetícia Kawano-Dourado

Mulheres: dificuldade de ascensão na carreira

Vieses que funcionam como verdadeiras contracorrentes na carreira feminina


Liderança sempre foi pensada como uma prerrogativa masculina no mundo corporativo, político, militar e em outros setores da sociedade [1, 2] . Apesar da mulher ter ganhado progressivo acesso a um hall mais completo de possibilidades profissionais, ainda é muito difícil ascender ao ponto de chegar no círculo chamado de liderança de elite (CEO, Presidente, Diretora, Reitores, Professores Titulares, Chefes de departamentos etc) [3].


E o que ocorre? Alguns dizem que é porque a mulher se dedica menos ao trabalho e mais à família, e que por isso fica menos competitiva na ascensão da carreira. Outros dizem que a mulher não tem tanto interesse em liderança, quer apenas "ir lá no seu trabalho, fazer o seu papel bem feito e pronto". Bom, é possível que essas explicações expliquem de fato alguns casos, mas dificilmente explicam a discrepância geral em em todas as indústrias, na Saúde inclusive, entre o número de mulheres que entram no mercado de trabalho e o número de mulheres que chega ao alto círculo de liderança [3]. Alguma coisa acontece nesse caminho e o projeto #RespiraEvidencia se dedica junto a outros importantes atores sociais a explorar esse mistério. Parte da explicação se encontra em vieses subconscientes que nós como sociedade nutrimos a respeito dos gêneros favorecendo a ascensão profissional masculina e desfavorecendo a ascensão feminina [1, 3]



Figura retirada do relatorio Women in the Workplace de 2018 produzido por McKinsey&Company levando em consideração quase 300 empresas




Vejam agora abaixo, nesse interessante artigo publicado em 2017, como norte-americanos tem expectativas bem diferentes sobre caraterísticas pertinentes ao gêneros masculino e feminino (e não são só eles). Tomando por base essas expectativas, um individuo que as viola, causa desconforto no observador pois as expectativas sociais do observador não estão sendo representadas na realidade. O indivíduo que destoa muito frequentemente passa a ser mal avaliado: "inadequado, "errado".
Retirado de Parker K; Horowitz JM; Stepler R. On Gender Differences, no consensus on nature vs. nurture: Americans see different expectations for men and women. Pew Research Center, 2017.

Quer dizer, se uma mulher apresenta características de liderança e sucesso financeiro, ambição, força e firmeza, muito frequentemente será mal e não bem avaliada (a tal mulher "difícil", que precisa ficar mais "quieta", "baixar a bola", "menos, vai, menos!"). Enquanto o seu colega do gênero masculino, que apresenta as mesmas características será bem avaliado. Qual deles tem mais chance de ascensão a postos de liderança a longo prazo?


Abaixo algumas dicas bem-humoradas para mulheres se deslocarem no ambiente de trabalho sem "incomodarem"* os colegas, assumindo e lidando com a presença desses viéses.


*desculpa aqui a palavra "incomodar": o humor é difficil de captar em texto escrito: claramente a palavra "incomodar" está carregada de HUMOR rsrsrsrsrsrsrs


Um dos #9 conselhos para mulheres se mostrarem menos "ameaçadoras" no ambiente de trabalho. Retirado de https://thecooperreview.com/non-threatening-leadership-strategies-for-women/


Esse assunto começou a me chamar a atenção quando, não me lembro por que motivo, há uns anos atrás, acabei em um vídeo no Youtube onde uma Professora de Business da Standford, Margaret A. Neale, ensinava quais argumentos mulheres deveriam usar para pedir aumento de salário, já que esse pedido feito por uma mulher é a priori mal recebido. Fiquei chocada! Ela argumenta muito bem explicando que mulheres que expressam ambição, senso de valor próprio, de valor do seu trabalho são vistas como ameaçadoras e que pedidos por aumento deveriam vir carregados de um toque de "feminilidade" no sentido de que o dinheiro era para cuidar da família, dos filhos etc (essa argumentação decanta melhor). Sugiro assisti-la, faz todo sentido que nós mulheres saibamos onde pisamos enquanto os vieses subconscientes estão aí operando contra nós e lembrem-se todos nós os temos. Não à toa vemos uma diferença salarial em torno de 20%: quer dizer para cada dólar que um homem faz, nós fazemos 0,8 centavos [4]

Vale ressaltar que boa parte desses vieses mentais ocorrem em mentes femininas e masculinas (é cultural) e na sua maior parte de forma subconsciente [1]. Tendo a acreditar que a bandeira que defende #equidadedegenero no trabalho é uma bandeira de todos os que prezam por justiça em sociedade, ou seja é um assunto de Homens e Mulheres "conectados", não só de mulheres! Lembrem-se uma sociedade baseada em justiça é uma sociedade que é segura para todos pois hoje estamos em posição privilegiada, amanhã podemos não estar mais, e ser tratado com justiça garante segurança no convívio comum.


[1] JEagly AH; Karau SJ. The Role Congruity HTeory of Prejudice Toward Female Leaders, Psychological Review, 2002.

[2] Parker K; Horowitz JM; Stepler R. On Gender Differences, no consensus on nature vs. nurture: Americans see different expectations for men and women. Pew Research Center, 2017.

Declaração de conflitos de interesse: nenhum

[3] https://womenintheworkplace.com/ relatório de 2018


Projeto Respira Evidência por Leticia Kawano Dourado


Declaração de conflitos de interesse: sou #maedemenina #MaeeMedica e estou aqui no modo "Leoa-on" agindo por um mundo melhor para minha filha, o irmão dela (ele também merece uma sociedade mais justa!) e por toda essa geração que está por vir.


As opiniões aqui veiculadas representam minha posição pessoal.


Acréscimo posterior à publicação do post: acompanhando a discussão sobre o assunto, a ideia predominante é que a mulher deve sim se posicionar e negociar salário, cargos e espaço. Mesmo que enfrente resistência, não há outra forma de mudar uma cultura. Reforço de todo modo de usar algumas estratégias sugeridas pela Margarete Neale, vide acima.

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