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  • Writer's pictureLetícia Kawano-Dourado

Namoro em tempos de covid19

Seguem algumas orientações práticas para que esse encontro físico tenha o máximo de segurança


Em um post anterior, comentei sobre estratégias para aumentar a segurança de encontros entre membros de uma mesma família (avós, pais) ou amigos. Rebebi na sequência vários pedidos de orientação para encontros seguros entre parceiros sexuais. Vários casais de namorados foram separados pelo distanciamento social...e estão sofrendo com a distância. Segue então esse post para orientar um re-encontro da forma mais segura possível :-). Vou fazer esse post na forma de perguntas e respostas, contemplando a maioria das dúvidas que já recebi:



Qual é o risco (de adoecer de Covid19) nesse encontro?


Essa resposta depende das circunstâncias pessoais:

*jovem = idade menor que 50 anos, e quão mais jovem menor o risco de covid19 grave

  • Se um dos parceiros já teve Covid19 (manifestações clínicas compatíveis e RT-PCR ou sorologia no sangue positivos). Além disso, já se passaram mais que 7-14 dias do FIM dos sintomas ou 21 dias do início dos sintomas (o que for mais longo), esse é um encontro que pode ser entendido como de baixo risco. Motivo: não há até agora na literatura médica, relatos de re-infecção de Covid19 na China, Europa ou EUA (em 23 de junho de 2020) o que é uma evidência indireta de imunidade de curto prazo (ou seja ~5 meses).

  • Ao contrário, se um dos parceiros é jovem há mais tempo (maior que 50 anos) ou tem algum risco para Covid19 grave ou co-habita com grupos de risco, então estamos diante de uma cenário que precisa ser bem planejado.

  • Outro aspecto importante na avaliação de risco é avaliar se o(a) parceiro(a) nutre a mesma preocupação com risco de contágio de Covid19 semelhante à você. Para um encontro ser de baixo risco é preciso que ambas as partes envolvidas estejam comprometidas em reduzir o risco de contaminação.



Como posso aumentar a segurança desse encontro?


Algumas estratégias podem ser usadas para aumentar a certeza de que ambos estão livres de Covid19 no momento do encontro e portanto sem risco de adoecimento próprio ou contaminação de outras pessoas com quem co-habitam (família, colegas):

  • Fazer 14 dias de isolamento seguro antes do encontro.

  • Ter cuidado no trajeto até o encontro (carro particular? ônibus? Avião?). Cuidado na volta também!

  • Encontrar em locais seguros para a Covid19. Motéis/hoteis não são exatamente um local seguro para covid, tendo em vista a rotatividade,e funcionários de limpeza que atuam nos quartos, mas se for necessário usá-los o que pode ser feito é: aguardar 15 minutos para entrar no quarto (caso ocorra o azar da camareira ter espirrado/tossido no quarto, deu tempo da maioria das gotículas se depositarem), levar sua prórpia roupa de cama e banho e higienizar com alcool a 70% todas as superfícies do quarto que pretente tocar.



O que NÃO serve para dar segurança ao encontro?


  • Fazer o teste rápido (ponta de dedo) ou a sorologia em alguém que nunca teve sintomas de Covid19 : primeiro ponto é que a performance dos testes ainda é desconhecida e um resultado positivo ou negativo pode ser falso. Segundo que tanto o teste rápido quanto a sorologia se baseiam na detecção de anticorpos (IgG, IgM, IgA), e estes só são possíveis de serem adequadamente detectados depois de 14 a 21 dias do início da infecção - ou seja, não servem para informar se alguém está transmitindo (a transmissão começa 24-48h antes dos sintomas aparecerem). Um teste rápido ou sorologia negativos podem significar desde que a pessoa nunca teve Covid19, até que a pessoa está com Covid19 num momento inicial da infecção.




Foto de Fernando Magalhaes: coleta do PCR


Beijar na boca é seguro?

Se você seguiu todas as orientações acima que aumentam a segurança do encontro, beijar é seguro pois duas pessoas saudáveis (livres de Covid19) estão se encontrando. Por outro lado, se você tem dúvida da qualidade das medidas implementadas para garantir a segurança do encontro, então o beijo deve ser preferencialmente evitado, e máscaras faciais devem ser usadas para reduzir ainda mais o risco (potencial) de transmissão.


A Covid19 pode ter transmissão sexual? (Via esperma e mucosa vaginal/anal?)


Sabemos que o SARS-CoV2 já foi detectado em esperma, sangue, urina e fezes,no entanto não há evidência comprovandoa transmissão por via sexual (apesar de plausível). Esse é o motivo das recomendações de isolamento seguro antes do encontro, para reduzir ao máximo o risco de contaminação no encontro, já que é possível que apenas evitar o beijo e uso de máscaras faciais não sejam o suficiente.


Além disso, o uso de camisinha faz então sentido uma vez sabendo da presença do vírus em esperma, urina, sangue e fezes de pessoas contaminadas. Não esqueçamos também de que a camisinha protege contra outra doenças sexualmente transmissíveis, algumas em situação problemática no Brasil, como a sífilis.



Após o encontro, quais cuidados são necessários para aqueles que co-habitam com grupos de risco e vão retornar para casa?


Assuma o encontro amoroso como um "furo" no isolamento, principalmente caso tenha dúvidas sobre a qualidade dos cuidados do seu(sua) parceiro(a) em relação ao isolamento pré-encontro. Isso significa que você deve redobrar os seus cuidados nas próximas duas semanas: uso de mascara simples em casa, higiene de mãos,higiene de superfícies e separação de itens de cama, mesa e banho.


Sem dúvida a pandemia Covid19 traz uma carga a mais de cuidados (trabalheira!). Dá em alguns momentos aquele cansaço. Minha recomendação é respirem fundo, tenham paciência, vai passar. Enquanto não passa, adotem os cuidados devidos para atravessarem de forma segura (tanto vocês quanto suas famílias) esse período de desafio. Fiquem bem e bom namoro!





Declaração de conflitos de interesse: nenhum


As opiniões aqui veiculadas representam minha posição pessoal.

Sou Leticia Kawano Dourado, doutora em pneumologia pelo HCFMUSP, médica pneumologista e pesquisadora do Hospital do Coração em São Paulo. Integro o time de pesquisa da Coalizão Brasil Covid19.


Projeto Respira Evidência por Leticia Kawano Dourado




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