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  • Writer's pictureLetícia Kawano-Dourado

Nintedanib e risco cardiovascular

Detalhes metodológicos relacionados às análises de segurança de drogas


Já tratei desse assunto em outros posts, como esse aqui comparando nintedanib e pirfenidona e esse outro sobre as análises de segurança sobre o arsenal terapêutico da artrite reumatoide. Mas vamos retomar o assunto diante de um artigo que acaba de sair publicado no European Respiratory Journal esse mês.



Nesse artigo temos a análise agregada dos dados dos estudos TOMORROW e INPULSIS. Foram analisados por volta de 1200 pacientes incluídos tanto no grupo nintedanib quanto no grupo placebo.

70% dos pacientes tinham ao menos um fator de risco cardiovascular (CV) não-aterosclerótico, como hipertensão, diabetes, dislipidemia. E apenas 20% dos pacientes tinham algum risco cardiovascular aterosclerótico, como insuficiência coronariana, insuficiência cerebrovascular.









Observa-se que nos dados agregados, a incidência de infarto agudo do miocárdio (IAM) por 100 pacientes-ano tem estimativa ponto de 3.03 no grupo nintedanib versus 1.16 no grupo placebo. Os intervalos de confiança 95% das estimativas se cruzam, por tanto sem significância estatística, vejam a expressão gráfica desse fenômeno abaixo:



E o que isso significa?


Aqui vale a máxima: a ausência de evidência não é evidência de ausência. Trata-se de um estudo com numero de pacientes pequeno, utilizando uma população super selecionada (que é a população que é em geral incluída em ensaios clínicos randomizados). A intersecção dos intervalos de confiança de 95%, quer dizer a falta de significância estatística pode ter dois significados:


1. De fato não há risco aumentado de infarto do miocárdio com nintedanib


2. Pode ser que haja aumento de risco mas essa análise não foi capaz de apreendê-la (sem poder para tal).


O fato indiscutível é que precisamos de mais dados.


Minha interpretação das evidencias disponíveis atualmente é que tendo em vista a plausibilidade biológica do nintedanib aumentar fenômenos trombóticos somada a essas estimativas indicando potencial risco (a ser comprovado ou refutado), minha preferência é por preferir a pirfenidona nos pacientes com risco cardiovascular aterosclerótico (ex. doença coronariana, doença cerebrovascular, antecedente de IAM). Na dúvida pró-réu.

Declaração de conflitos de interesse: speaker e personal fees da Boerhinger Ingelheim, Roche e Bristol Myers Squibb. Advisory fees pela Bristol-Myerss-Squibb. Financiamento de pesquisa pela Bristol-Myers-Squibb.


As opiniões aqui veiculadas representam minha posição pessoal.


Projeto Respira Evidência por Leticia Kawano Dourado




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