A evolução da pandemia
Nesse post comento sobre o desenrolar da pandemia sob a perspectiva do surgimento de variantes, vacinas, testagem e tratamentos contra a COVID-19 e o nosso caminho para acelerar a endemicidade da COVID-19.
21 de Janeiro de 2022
A endemicidade da COVID-19 está condicionada a conseguirmos abaixar o risco associado à infecção. A vacina é um ponto central, determinando doença menos grave, no entanto ela não é elemento único e suficiente para acelerarmos o caminho para a endemicidade e a omicron vem com essa mensagem:
Detectada no final de 2020 pelo laboratório do Prof. Tulio de Oliveira na Africa do Sul, a omicron então chega colocando uma pedra na ideia de que o ciclo da variante Delta encerraria naturalmente a pandemia no mundo.
A omicron nos força a refletir que apenas a vacinação não será capaz de controlar a morbimortalidade secundária à COVID-19, havendo necessidade de tratamentos capazes de reduzir o potencial de doença grave pela COVID-19
Figura acima retirada do site da Mayo Clinic. [Reportagem de 21 de Julho de 2021]
Esses tratamentos começam a surgir um ano depois que a pandemia começa, no 1o trimestre de 2020: um tempo record para desenvolvimento de novas drogas, já que a maioria delas são drogas novas, apenas algumas são drogas reposicionadas.
Os tratamentos capazes de prevenir hospitalização, e portanto, "amansar"a COVID-19 em especial para aqueles pacientes de alto risco para evolução desfavorável (mesmo se vacinados, aqui) são: - anticorpos monoclonais
- remdesivir (após resultados do PINETREE e CATCO trials)
- paxlovid
Esses medicamentos são AVANÇOS INCRÍVEIS e são as intervenções de maior efeito na COVID-19 capazes de reduzir ~ 70 a 80% a chance de hospitalização por COVID-19: estão disponíveis no mundo desde o inicio de 2021.
Entretanto, até Janeiro de 2022, o Brasil não tem acesso a nenhum desses tratamentos. Deixando sua população descoberta, desprotegida. Tenho sido muito vocal sobre isso no meu Instagram
Além de tratamentos, acesso à testagem na população, por meio de auto-testes, é outro elemento a ser considerado como importante no controle da agressividade da COVID-19, já que a testagem é capaz de interromper surtos e de proteger os mais vulneráveis, se pessoas que vão contactar essas pessoas vulneráveis à COVID-19 grave são testadas antes do contato.
O mundo todo usa auto-testes em COVID-19 desde 2020, mas o Brasil segue sem acesso a eles - a população sendo privada da testagem instantânea e consequentemente da tomada de decisão
Também tenho sido bastante vocal sobre esse assunto de acesso a auto-testes no meu Instagram. Aqui na nossa casa por exemplo, graças ao acesso a auto-testes comprados na França, evitamos um surto de COVID-19 nas festas de final de ano de 2021!
Sobre o auto-teste do antígeno, a ANVISA e o MS discutem (só agora em Janeiro de 2022!!) a autorização para venda no Brasil. Esperando que esse resultado seja favorável para a população Brasileira, e em assim sendo, eu já vou deixar algumas dicas de como fazer a coleta da amostra aqui (veja a figura abaixo): 1. O cotonete no nariz deve ser inserido apenas 2-3 cm e na horizontal (em direção à nuca)
2. Rode o cotonete 360o
3. Deixe o cotonete 5 segundos lá no local
4. Passe o cotonete na garganta (para Omicron isso é importante)
Não enfie o cotonete além de 2-3cm e nem enfie em direção superior (para cima)
Estamos há 2 anos convivendo com a COVID-19, e agora em um patamar beeem melhor com: 1. vacinas descolando as curvas de caso da curva de hospitalização e morte
2. tratamentos que reduzem o risco de evoluir mal naqueles que, mesmo vacinados, se testam positivo para COVID-19
3. Auto-testes permitindo o controle da transmissão comunitária e o abortamento de surtos
Acredito que estamos caminhando para endemicidade sim, não vai acontecer da noite para dia, mas já está acontecendo! A omicron provavelmente não será a ultima variante da vez, mas estamos MAIS preparados!
Declaração de conflitos de interesse: nenhum
Eu sou Leticia Kawano Dourado, doutora em pneumologia pelo HCFMUSP, médica pneumologista e pesquisadora do Hospital do Coração em São Paulo. Sou clinical chair do Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes em Tratamento para Covid da Organização Mundial em Saúde (OMS). As opiniões aqui veiculadas representam minha posição pessoal e não os das Instituições e Organizações as quais estou ligada.
Desculpem erros de ortografia ou gramática - está difícil conciliar o inglês, português e o francês.
Projeto Respira Evidência por Leticia Kawano Dourado
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