Quão preocupante são os PFAs ? Um pouco de olhar científico sobre as evidências disponíveis
Na parte 2 abordarei o risco do alumínio presente em panelas, vacinas e desodorantes. Na parte 3 o risco de agrotóxicos e na parte 4 o risco dos protetores solares!
Esse é um post diferente, um pouco de método científico aplicado para consumo próprio, eu diria rs. Desde que tive filhos, passei a consumir com mais curiosidade a literatura científica nutricional (um problema em si!) e a literatura de riscos ambientais. Sempre com a perspectiva do olhar científico sobre a qualidade da evidência disponível para embasar minhas decisões domésticas de reduzir ou não o uso/consumo de determinados produtos. Resolvi então fazer esse post para compartilhar minhas reflexões.
PFAs: são Perfluoroalquilos. Fazem parte dos PFAs, os perfluorooctanossulfonato (PFOS) e o ácido perfluorooctanóico (PFOA). Os PFAS são sintetizados desde 1950 e por apresentarem a propriedade de repelir óleo, graxa e água concomitantemente, sempre foi amplamente utilizado pelas indústrias que promovem proteção de superfícies, tais como roupas repelentes de água, tecidos resistentes a manchas e carpetes, alguns cosméticos, revestimento para embalagens de papel cartão e antiaderente em panelas (Teflon). Pesquisas sugerem que mesmo níveis aceitáveis de PFAs podem ser imunossupressores, reduzindo a resposta vacinal, interferindo em hormônios (inclusive como causa de infertilidade "não explicada") pró-diabetogênicos, e cancerígenos. A evidência a favor do efeito tóxico dos PFAs é considerável ao ponto de levar autoridades sanitárias de todo o mundo a tomarem medidas para controle da exposição a esses produtos.
Estudos epidemiológicos próximos à fabrica de panelas DuPond Teflon no estado da Virgínia nos EUA sugerem provável associação entre a contaminação ambiental com PFAs e vários tipos de cânceres entre outros problemas de saúde. Estudos em animais mostram o desenvolvimento de câncer de pâncreas e imunossupressão em ratos expostos a níveis considerados aceitáveis de PFAs.
Lembrem que quando se fala de segurança, o limite para a ação é mais tênue do que quando se fala de eficácia. Estudos epidemiológicos apontam na mesma direção de efeito de estudos animais. Trata-se de evidência suficiente para autoridades sanitárias tomarem as providencias no sentido de monitorar, controlar e estudar o efeito dos PFAs como exemplo Norte-Americano, Australiano, União Europeia. PS: Não localizei medidas governamentais Brasileiras no sentido de monitorar e controlar a exposição a PFAs. Se alguém tiver uma fonte, por favor compartilhe para que eu possa atualizar esse post.
Resumo da Ópera: A soma de evidências epidemiológicas com substrato mecanístico comprovado em modelos animais é evidência suficiente para procurar evitar PFAs. Não há necessidade de pânico, tendo em vista a exposição em pequenas quantidades e ubíqua. De todo modo poder reduzir essa exposição dentro do possível a longo prazo, me parece factível e razoável.
No meu ambiente doméstico troquei o teflon por panelas de aço-carbono ou aço-inox (as mais estáveis do ponto de vista químico). Não temos nenhum estofado ou carpete impermeabilizado, não consumimos mais pipoca de microondas (essa mudança foi recente!) e evitamos sempre que possível outras exposições menos frequentes conforme a figura acima. Não tomamos tap water (água de torneira) nos EUA nas regiões onde a água está contaminada por PFAs (ou chumbo!).
Minha opinião: o efeito cumulativo de pequenas exposições de substâncias com "odds ratio" baixo para efeitos deletérios, quando somadas a outras exposições com potencial sinérgico na linha do tempo (anos) podem levar a eventos clinicamente detectáveis. E esse é o motivo da minha precaução e evitamento apesar de haver ainda alguma controvérsia sobre o assunto (menos do que com alumínio, em breve no proximo post dessa série!).
Declaração de conflitos de interesse: nenhum
As opiniões aqui veiculadas representam minha posição pessoal.
Projeto Respira Evidência por Leticia Kawano Dourado