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Writer's pictureLetícia Kawano-Dourado

Poluição do ar e alergias respiratórias

Evidência científica de que a fumaça derivada da combustão de diesel sensibiliza para novas alergias e piora o quadro de alergias já instaladas



Os efeitos nocivos da poluição do ar associada ao tráfego urbano são observados em todas as fases da vida humana: desde aumento do risco de baixo peso ao nascer, até aumento dos riscos de exacerbações respiratórias e cardiovasculares incluindo morte cardiovascular precoce.

Poluição atmosférica sobre a cidade de São Paulo. O problema se agrava em períodos mais secos

Ao inspirar a poluição derivada da combustão de diesel ou gasolina, inalamos um coquetel de partículas sólidas e líquidas dissolvidas no ar. Desde meados dos anos 90, o foco tem sido nas partículas finas de tamanho inferior ou igual a 2,5 micrômetros (PM2.5) - eram nelas que as medidas preventivas deveriam focar pois eram as mais nocivas. Entretanto, estabelecer causalidade de uma ou outra partícula em meio ao caldeirão de substâncias derivadas da combustão de combustíveis é tarefa árida e levou alguns anos até que os cientistas começassem a entender o papel de outros gases/substâncias derivados da poluição automotiva.


Um estudo recente, usando randomização (etapa da investigação científica necessária para apreender causalidade) lança luz sobre outros atores presentes na poluição automotiva, tirando um pouco o foco das partículas PM2.5:


Nesse estudo, 14 voluntários alérgicos (sendo que 9 deles tinham hiperresponsividade brônquica inclusive) foram submetidos a três experimentos:

1. expostos por 2 horas à fumaça de combustão de diesel e em seguida expostos ao antígeno que os desencadeava alergia.

2. expostos por 2 horas à fumaça de combustão de diesel filtrada (remoção de alta eficiência, removendo > 90% das partículas (PM2.5) - semelhante ao filtro usado em caminhões e ônibus), deixando apenas gases voláteis, e em seguida expostos ao antígeno que os desencadeava alergia.

3. expostos por 2 horas à placebo (solução salina) e em seguida expostos ao antígeno que os desencadeava alergia.


Para surpresa dos pesquisadores, a fumaça da combustão do diesel filtrada desencadeou uma pior resposta alérgica exacerbada se comparada à fumaça diesel não filtrada - apontando que o composto que causa a exacerbação de alergia mediante a exposição à poluição automotiva não são partículas finas mas gases voláteis. Dos gases, o gás que aumentou sua concentração após a filtragem foi o NO2 (dióxido nítrico), indicando que ele pode ser o vilão por trás da piora da resposta alérgica quando em contato com a poluição.


Voluntários sem hiperresponsividade brônquica apresentaram mais frequentemente episódios de hiperresponsividade brônquica após a exposição à combustão do diesel seguida de exposição ao alérgeno. Esses achados sugerem que a poluição automotiva é um fator exacerbador e desencadeador de asma, de crises de asma e de crises de DPOC.



Não suficiente, o dióxido nítrico (NO2) - produto da combustão de combustível fóssil, tem impacto em fertilidade de magnitude significativa. Mulheres expostas podem ter 3x mais chance de menopausa precoce comparadas a mulheres não expostas

Exposição a dióxido nítrico e redução da fertilidade feminina

A fumaça proveniente de combustível fóssil está associada a aproximadamente 13% dos casos novos de asma diagnosticados anualmente no Reino Unido.


Resumo da Ópera: Os achados desses estudos suportam as discussões na esfera da Saúde Pública sobre o controle de NO2 no ambiente. Caso os Governos consigam atingir o controle da presença desses gases na atmosfera, é esperado um impacto positivo na saúde geral mas em especial na saúde respiratória e cardiovascular dos moradores de grandes cidades.

Já sabemos que morar perto de avenidas movimentadas é um problema, assim como se exercitar em avenidas movimentadas: todos são fatores que aumentam a exposição a essas partículas e gases - podendo evitar, melhor.



Declaração de conflitos de interesse: nenhum


As opiniões aqui veiculadas representam minha posição pessoal.


Projeto Respira Evidência por Letícia Kawano Dourado




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