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  • Writer's pictureLetícia Kawano-Dourado

Práticas de bondade amorosa e meditação

Uma revolução gentil interior promotora de bem-estar


Janeiro de 2023


Há 9 anos pratico regularmente meditação e ações de bondade amorosa (loving kindness) com âncora no Budismo Tibetano. Essas práticas promoveram uma verdadeira revolução do bem em mim, trazendo mais equinamidade, menos turbulência e mais alegria. Conto aqui meu caminho



Há 9 anos atrás estava grávida do meu primeiro filho e minha mãe vivendo o ultimo ano de vida após uma batalha desgastante contra um câncer. Minha mãe faleceu quando meu filho tinha 7 meses e toda essa mistura de emoções foi um desafio sem tamanho para mim. Acrescenta-se ao fato, eu estava em um período (gravidez e amamentacao) em que eu não podia me medicar pra valer e isso me deixava à mercê do tsunami emocional sem qualquer "air bag".


Foi nessa época que comecei a procurar por ajuda e respostas, e além da psicoterapia (psicanálise), que me ajudou muito, também fui encontrando alento em recursos online em bondade amorosa e meditação: nunca mais larguei.


Primeiro algumas observações para aqueles que se interessam por meditação:

Meditação (atenção plena) desacoplada de reflexões existenciais sobre dores emocionais (como frustrações, raiva, envelhecimento, morte, adoecimento) não vai a lugar nenhum. E a razão óbvia é que atenção plena (mindfulness) isolada é incompleta.

Se voce dedica atenção plena a uma mente turbulenta pode apenas trazer mais dor e nada mais. É preciso oferecer bálsamo (amor) acoplado à atenção plena para haver cura.


E esse é o grande problema da abordagem "mindfulness"do Ocidente: foi desacoplada de reflexões existenciais (com intuito de esterelizar qualquer vestígio "religioso"da prática). Resultado: ficou incompleta e só consegue ajudar se a turbulência interna é pequena :-/


Então alguns conselhos para aqueles que tem interesse em práticas meditativas:


  1. Acople o exercício de meditação com reflexões existenciais (vide abaixo algumas fontes): essa combinação é a que tem o potencial de transformar

  2. Se você tiver oportunidade de fazer um curso em pessoa (ao vivo), melhor. Começar/aprender não é fácil e estar em comunidade ajuda também a se conectar com gente buscando algo semelhante

  3. A mudança é gentil e lenta. Você não a vê acontecendo, mas pouco a pouco com os anos começa a notar menos reatividade, mais bem-estar: ao menos assim foi comigo.

  4. Todos os dia um pouquinho. Alguns dias mais, outros menos, mas o importante é ter regularidade


Aqui alguns recursos que encontrei, verdadeiros bálsamos :


[Em inglês, tudo gratuito]

As aulas de meditação da Buddhist Society of Western Australia, destaque para o monge Ajahn Brahm . O Ajahn Brahm sempre começa suas sessões de meditação com reflexões sobre temas diversos que acalmam a mente e isso torna a sua mente mais capaz de meditar :-)


As meditações guiadas da Tara Brach. A Tara é uma psicóloga budista Norte-Americana. Suas meditações guiadas são perfeitas. Há temas para cada necessidade do momento: apego, medo, raiva, etc. Eu gosto muito de ouvir também as reflexões (dharmas) sobre temas diversos (impermanência, medo, alegria, ansiedade, morte), minha opinião é que são essas reflexões que trazem expansão e mais equinamidade.


Todos os conteúdos da Pema Chodron. Tem muitos audios dela no youtube. Há vários audiolivros (adoro audiolivro: ouvir a voz da Pema e da Tara é calmante para mim) e vários livros traduzidos para o Português.


Tanto a Pema quanto a Tara são de uma profundidade psíquica sem tamanho (elas "atravessaram até a outra borda delas mesmas"). Já o Ajahn Brahm tem mais a oferecer sob a perspectiva da técnica meditativa, menos profudindade psíquica (sendo sincera, apesar de gostar dele)


[Em Português, recurso pago]

Eu basicamente pratico em inglês :-/, mas já ouvi gente conectada falando bem do app meditopia, também com muito conteúdo reflexivo existencial. Meus filhos por exemplo gostam de dormir fazendo meditacao guiada desse app :-)


Alerta:


Cuidado com aqueles conteúdos que prometem te afastar de todos os males e te trazer luz, paz e bonança mediante a força do pensamento, exemplo: aqui. Eu digo cuidado por que na vida não há como se afastar de envelhecer, morrer, e ainda adoecer para alguns. E em assim sendo, esse pensamento mágico acaba se tornando fonte de mais ansiedade e sofrimento.


Há várias meditações guiadas que prometem que se voce meditar, voce vai se afastar dos males e das dores da vida ("inspire beleza, saúde etc, expire suas dores"). Infelizmente não é verdade, ao contrário é como a Pema Chodron fala: chegue perto do seu limite e acolha-o (meet your edge and soften it), é assim que voce vai ganhando mais equinamidade. A expansão emocional para ser real, precisa ser ancorada em realidade, e é isso que o budismo tibetano oferece, por isso o recomendo.


Agora é sim possível que ao se acalmar, voce acalme seu sistema nervoso, que por sua vez tem íntima ligação com seu sistema imunológico e endócrino, e aí sim sua saúde melhore. Não por pensamento mágico mas por pacificar turbulências.

Lembrei agora das descrições da prática de meditação tonglen* curar leprosos no Tibet antigo.


*Note que o tonglen atrai para si as dores do mundo num gesto de compaixão, e ainda assim curou pessoas: quer dizer a força de saúde não está no pensamento mágico, mas em acalmar a mente.


Últimas palavras


A meditação e a prática da bondade amorosa para mim ocorreram de forma autodidata com recursos da internet. Pratico há 9 anos e em nenhum momento notei um "clique"da mudança mas se olho para trás diria que melhorei 9 em 10 sob a perspectiva de bem-estar, calma, menos reatividade. Continuo sendo eu mesma, mesma mente (tendencia a ansiedade e que dorme mal) mas me relaciono com essa mente de uma forma beeem melhor. Essa expansão se estendeu para as pessoas com quem convivo, tenho os "músculos"da compaixão bem mais hipertrofiados rsrsrsrs Não tenho nenhum conflito de interesse para declarar sobre o tema. Não tenho nenhuma relação com as fontes de conteúdo que sugeri


Vamos em frente! Sou Leticia Kawano Dourado

Médica, pesquisadora, mãe





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