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Writer's pictureLetícia Kawano-Dourado

Varíola dos Macacos (Monkeypox):

A OMS declarou em Julho de 2022 a monkeypox uma Emergência de Saúde Pública de interesse internacional. Estamos saindo da COVID-19 e entrando em uma próxima pandemia?


Varíola dos macacos (ou variole du singe em Françes). Imagem do site da Agencia Regional de Saúde da Ilê-de-France. https://www.iledefrance.ars.sante.fr/variole-du-singe-conseils-et-prise-en-charge-en-ile-de-france

Muito provavelmente não, explico:


1. A transmissão da monkeypox ocorre de forma mais difícil que a COVID-19

Enquanto a a COVID-19 se transmite pelo ar através de aerossois, a monkeypox depende de contato próximo entre as pessoas (pele-pele, pele-boca, mucosas).

Isso significa que sua disseminação na população nem de perto é tão fácil quando aquelas doenças transmitidas pelo ar


PS: Muitos de vocês se preocupam com a transmissão através de superficies, por exemplo, contato com um cadeira onde esteve alguém com lesão de pele sentado. Ainda falta evidência, mas tudo indica que, ao menos para esse momento, a monkeypox não se transmite tão fácil assim. Porque? Porque 98% dos casos estão restritos àquelas pessoas com múltiplos parceiros sexuais, apontando essa via de contato íntimo como a principal via de transmissão.


2. No Brasil aqueles nascidos antes da década de 80 foram vacinados para varíola, têm alguma proteção contra monkeypox

A vacinação contra varíola comum (doença causada por vírus parecido com o do monkeypox) tem proteção cruzada contra a monkeypox estimada em torno de 80%. Uma parcela razoável da população brasileira então provavelmente tem alguma proteção contra a doença


3. Temos vacinação para bloqueio em volta de casos

Com a vacina contra a varíola comum pode-se bloquear o círculo de transmissão da varíola dos macacos. Aqui na Europa está sendo usada a IMVANEX para esse fim: vacinação da população sob maior risco e vacinação de bloqueio para contactantes. A IMVANEX é uma vacina de terceira geração (menos efeitos colaterais que as anteriores), feita com vírus vivo atenuado, portanto cautela na administração dessa vacina a imunossuprimidos


4. A mortalidade de 10% vista na Africa, não se confirma nesse surto atual

A monkeypox era descrita de ter mortalidade em torno de 10% onde é endêmica, em alguns países Africanos. Observa-se no entanto morbimortalidade bem mais baixa que esses 10% possivelmente por uma combinação de fatores desde imunidade pré-existente pela vacinação da varíola comum até melhor assistência em saúde que aquela disponível em países Africanos onde a doença é endêmica.



Qual o dever de casa do Brasil frente a esse desafio?

Apesar da situação ser menos complicada que antecipado, ainda assim trata-se de um desafio de saúde pública


O Brasil precisa de um protocolo claro orientando clínicos sobre: 1. quem são casos suspeitos (quais lesões suspeitar de monkeypox, e aqui: note que qualquer lesão com pústula, isolada ou aglomerada deve levantar suspeita)

2. Como coletar o exame para confirmar a doença de forma adequada e quais laboratórios estão fazendo a análise

3. Qual a orientação de isolamento para casos (em geral 3-4 semanas, até sumir a ultima lesão)

4. Manejo da dor das lesões

5. Quem são aqueles que devem ser considerados contactantes

6. Ter vacina para fazer vacinação de bloqueio em volta do caso

7. Ter acesso a antivirais que provavelmente são efetivos contra monkeypox (ainda a comprovar a eficácia definitiva mas eficaz em modelos animais e seguro)


As recomendações da Prefeitura de Paris estão super completas, para os que entendem frances, veja aqui:




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Vamos em frente!

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