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  • Writer's pictureLetícia Kawano-Dourado

COVID19 no Brasil: comportamento exponencial de transmissão

São 77 casos confirmados no país em 10 de março de 2020. A transmissão comunitária já acontece entre nós


Após o primeiro caso confirmado no Brasil trazido da Itália, havia dúvida se o clima quente tropical poderia freiar a doença aqui nos trópicos. Infelizmente, a dinâmica de transmissão aqui é exponencial e idêntica ao de outros países que estão lidando com o COVID19.




O que significa a taxa de transmissão exponencial?

1. Significa que enquanto os números são relativamente baixos (menores que 50-100) é díficil apreciar a rápida velocidade de transmissão, mas quando passarmos desse limite (nos próximos dias), veremos aumentos significativos por intervalo de tempo. É nesse momento em que as autoridades (tardiamente) se chocam e tomam medidas drásticas na tentativa de controlar o número de casos.


2. Significa que o cenário muda dia a dia agora que já juntamos uma quantidade razoável de casos e uma afirmação/orientação válida para uma semana pode perder completa validade para a outra, em especial nessa fase de ascensão da curva epidêmica em que estamos.


Da análise de cenários do COVID no Brasil feita pelo Instiuto Pensi, Hospital Sabará e Fundação Setúbal

3. Significa transmissão comunitária instalada - não mais apenas casos importados de fora - agora o COVID19 também é nosso


A pergunta seguinte (deveria ser) é: Se já identificamos esse comportamento exponencial de transmissão, se também já conhecemos a (dura) experiência de outros países com o COVID19: porque (como sociedade) não tomamos medidas enérgicas agora para reduzir o pico epidêmico (a concentração de casos em um curto intervalo de tempo), que por sua vez pode levar ao colapso do sistema de saúde? Porque esperar?



#flattenTheCurve virou uma hashtag popular no twitter. É muito importante que reduzamos a transmissão do covid19 para não sobrecarregar o sistema de saúde acima de sua capacidade de leitos e profissionais
Sim, é verdade que a maioria dos casos de COVID19 são leves, e que do ponto de vista individual o risco geral é baixo. No entanto, do ponto de vista de saúde pública, uma alta infectividade em um país com cidades densamente povoadas como o Brasil pode significar muitos casos graves simultâneos (em números absolutos), acima do que o sistema de saúde pode absorver.

E esse é o principal motivo para que todos nós nos comprometamos em reduzir a transmissão do COVID19. Como?

1. Evitando aglomerar-se, seja por que motivo for - de festa a reunião de trabalho.

2. Higiene de mãos (lavar com agua e sabão, ou álcool 70%, ou clorexidina)

3. Distanciamento social - mantenha ao menos 1 metro de distância, se não for possível, máscara idealmente N95 mas a máscara cirúrgica já reduz gotículas. Nada de cumprimento com beijo, abraço, aperto de mão.

4. auto-quarentena se contato com caso de COVID19, se retorno ao Brasil de países com extensa transmissão de COVID19

5. Não sair de casa se sintomas de gripe/resfriado. Se precisar sair, em especial para ir ao Hospital: use máscara simples e higiene de mãos.

6. Etiqueta ao tossir e espirrar: cubra a tosse e espirro com a parte interna do cotovelo.


Quem precisa tomar cuidados redobrados?

Há grupos de maior risco para a forma grave do COVID19.

- São pessoas acima de 55 anos (e o risco só aumenta, atingindo níveis altos acima dos 80 anos)

- Pessoas com doenças de base prévia em especial se imunossuprimidos

- Fumantes (sim na China, tabagistas tiveram uma fatalidade significativamente maior que não-tabagistas)

- Diabetes, hipertensão aparecem como risco também


Primeiros sintomas de COVID19, quais são?

Pela experiência (infelizmente já ampla no EUA) compartilhada no ultimo forum de discussão em 09/03/20 promovido pela sociedade americana de tórax, os primeiros sintomas não são respiratórios. Os pacientes começam queixando de dores no corpo, febre e alguns com dor de garganta leve. Nessa fase já testam positivo para o COVID19 e estão ativamente infectando. Apenas na segunda semana é que surgem sintomas respiratórios como tosse com ou sem falta de ar (a febre persiste).


Por quanto tempo a pessoa fica infectante?

Estudos recentes tem mostrado que o paciente excreta o vírus por uma média de 20 dias, podendo chegar a 40 dias. Nos EUA a saída do isolamento só ocorre após 2 testes (PCR) negativos com intervalo de 24h entre eles.


Evite ir ao Hospital se não for necessário

Lembre que se você tem sintomas compatíveis com COVID19 mas está bem e sem dificuldade para respirar, não há tratamento para essa situação - evite ir ao hospital para não sobrecarregar a emergência, para não arriscar contaminar outros e para não se contaminar (caso você não tenha o COVID19). De todo modo tenha um plano já traçado em mente (quem contactar) em caso de piora e deixe algum contato avisado para checar você frequentemente caso more sozinho.


Igualmente evite ligar para o 192 (SAMU) se não for nada grave

É possível que nos próximos 10-20dias o SAMU fique sobrecarregado atendendo casos graves


Minha opinião sobre o fechamento pró-ativo de escolas, universidades e cancelamento de outras atividades que agregam muitas pessoas (cancelamento de eventos) e cancelamento de viagens:

Fundamental e o momento é agora, ANTES de termos chegado no pico epidêmico - justamente para proteger o sistema de saúde da demanda aglomerada de casos novos graves. Aqui nesse artigo da Science, fica bem claro com base em dados de epidemias do influenza e dados atuais do COVID19, que medidas enérgicas na fase em que estamos tornaria o problema manejável e nos protegeria do caos....(suspiro), como foi o caso de Honk Kong.


Seguirei atualizando você. Tenho postado também nas midias sociais, no instagram e no facebook sobre o assunto.


Alguns posts-vídeos recentes:



Declaração de conflitos de interesse: nenhum


As opiniões aqui veiculadas representam minha posição pessoal.

Sou Leticia Kawano Dourado, doutora em pneumologia pelo HCFMUSP, médica pneumologista e pesquisadora do Hospital do Coração em São Paulo. Integro o time de pesquisa da Coalizão Brasil Covid19.


Projeto Respira Evidência por Leticia Kawano Dourado




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