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  • Writer's pictureLetícia Kawano-Dourado

Monitorização contínua da glicemia

Sensor de glicemia que se instala no braço da Abbott. Conto aqui o que achei

Agosto 2023

Atualizado em Setembro 2023


Como parte do meu foco em melhorar meu metabolismo da glicose (eu, em pré-diabetes), decidi instalar um sensor de glicemia por 14 dias. Instalei o sensor FreeStyle Libre da Abbott. Comprei numa farmácia sem necessidade de pedido médico e instalei em casa.


Por que toda essa minha preocupação com um "simples pré-diabetes"? Por que o pré-diabetes é uma bomba relógio programada para estourar no seu corpo daqui uns 20 anos, para mais detalhes veja meu outro post aqui.


Aqui o sensor FreeStyle Libre da Abbott instalado no meu braço

Mas vamos voltar ao assunto desse post, o sensor contínuo de glicemia:

Saiu (Maio 2023) um compilado sobre o sensor contínuo de glicose no Medscape, está muito bom, veja aqui (para acessar o conteudo é preciso se cadastrar, mas vale a pena!)


O FDA liberou o sensor da marca Abbott para uso no mercado Norte-Americano, veja aqui.


Outros pontos centrais desse compilado do Medscape:

  • Para crianças e adolescentes com diabetes do tipo 1, o uso do sensor junto com a bomba de insulina significativamente melhorou desfechos clínicos;

  • Para gestantes com diabetes gestacional idem;

  • Note que na diabetes gestacional, o risco de morte para o bebe intra-utero vem da hipoglicema, entao o monitor contínuo é uma benção para detectar isso!

  • Uso do sensor reduz em 40% risco de hipoglicemia em diabeticos tipo 1;

  • Uso do sensor reduz hemoglobina glicada e melhora o controle do diabetes em diabetes tipo 2;

  • Sensor aplicado no braço direito gera valores significativamente superiores do que ao braço esquerdo (tendo como padrão ouro a glicemia do sangue), curioso isso, nao? Veja o estudo aqui .

  • eu apliquei o meu sensor no braço direito e de fato meus valores de glicemia do sensor foram em geral 15% maiores que a glicemia do sangue (colhi sangue 2x para verificar isso).

  • a implicação prática disso, é que para diabeticos com risco de hipoglicemia, é preciso verificar a precisão do SEU sensor em relacao à glicemia (ponta de dedo ou sangue) antes de determinar açoes como insulina, ou comer algo (hipoglicemia). Imagine o seguinte, no meu caso (sensor acusando 15% a mais do que glicemia no sangue), um valor de glicemia no sensor de 70mg/dl corresponde a 59.5mg/dl no sangue: perigoso entende?

  • Outra máxima importante: para os que tem risco de hipoglicemia, se voce se sentir mal e o sensor der uma glicemia normal, vale a pena conferir com a glicemia do dedo antes de tomar qualquer ação.


Como funciona ?

Trata-se de uma pequenínissima agulhinha maleável acoplada a um sensor que fica instalada no seu braço por 14 dias. Essa agulhinha consegue medir a glicose presente no subcutâneo (no intersticio). Você escaneia o sensor com seu celular ou um glucosímetro da Abbott, e lá sai o resultado da glicemia instantaneamente. Nesse slide abaixo, a glicemia do sensor (intersticial) é comparada com a glicemia capilar (ponta de dedo):


Print de tela do material de apoio oferencido pela Abbott: https://www.diabetesnoalvo.com.br/entendendo-melhor-freestyle-libre/


Os resultados são bem interessantes, tanto na forma de gráficos diários, quanto médias e estimativas da Hemoglobina glicada:


Compilado de prints de tela do aplicativo da Abbott que entrega os resultados de glicemias e suas análises. Esses resultados podem ser compartilhados com o médico

Sobre a aplicação do sensor. Dói?

Na hora de instalar em mim doeu um pouco sim. De 0 a 10, doeu 2 (bem pouco). Depois curiosamente ficou dolorido mais umas 12h, daí depois ficou bem, indolor.

Eu tinha ficado encanada com a tal da agulhinha enfiada no meu braço: se aquilo ia ficar doendo ao toque etc, mas não dói não. Quando removi o sensor, após os 14 dias (precisa trocar de 14 em 14 dias e custa ~R$ 250 cada 14 dias), eu vi que a agulha é beeem maleável e pequeninissima, motivo pelo qual sua presença não incomoda.

A bula é relativamente clara, mas achei mais confiável ver um vídeo para ter certeza de que estava fazendo certo. Aqui o video.

O sensor fica beeem grudado, sem risco de cair. Brinquei na piscina, fiz musculação, tomei banho, tudo normal e o sensor lá!


Incomoda ficar com o sensor no braço?

Olha no geral não incomoda. O único momento que me incomodou um pouco foi à noite, pois eu durmo de lado, alternando os lados, e eu ficava preocupada de dormir por cima do sensor, além de sentir um doloridozinho quando deitava por cima. Se eu fosse aplicar uma outra vez, ficaria atenta ao local de aplicação para não ficar exatamente para baixo quando deitar de lado.


As glicemias do sensor são precisas se comparadas com a glicemia do sangue?

As glicemias derivadas do sensor são moderadamente precisas. Por que apenas precisão moderada? Explico:

  1. Dependendo do braço em que voce aplica o sensor, o valor derivado é diferente (interessante isso, não?) Veja o estudo aqui.

  2. A glicemia do fluido intersticial demora um pouco para equilibrar com o sangue. Isso quer dizer que em situações onde há rápida* variação da glicemia sanguínea, o sensor demora um pouco para acompanhar a glicemia sanguínea

*exemplo de rápida variação da glicemia: com o estresse, com remédios (insulina etc), com exercício forte, com alimentos de alto índice glicêmico


2. Tirando fora essa questão das variações rápidas (citadas no item 1 acima), ainda assim há uma diferença entre a glicemia do sensor para a glicemia do sangue. Os valores absolutos não batem 100% com a glicemia do sangue não. Por exemplo, eu medi simultaneamente minha glicemia no sangue (97mg/dl) e do sensor (113mg/dl), e a diferença foi de ~15% *para mais* no sensor. Repeti esse experimento outro dia e encontrei o mesmo padrão, a glicemia do sensor ~15% mais alta que a do sangue. Em ambas situações eu estava em um período de horas estável (sem comida, exercício influenciando). Minha opinião para aqueles com diabetes, que aplicam insulina: o sensor deve servir como um norte, um guia, mas se for para desencadear ações, sugiro "calibrar"com a glicemia de ponta de dedo (no meu caso, se eu fosse aplicar insulina, precisaria considerar que a glicemia do sangue está 15% mais baixa que a glicemia vista no sensor). Apesar disso, ele é super educativo e útil, uma vez que voce pode escanear a glicemia 10-20x por dia (minha média de escaneamentos nos 14 dias foram 15 escaneamentos por dia)


à esquerda, medida de glicemia pelo sensor. À direita, medida de glicemia no sangue. Note diferença de ~15% para mais no valor do sensor

O que aprendi com o sensor de glicemia por 14 dias?

  • Achei a visualização da variação de glicemia com atividades do dia a dia super EDUCATIVO! Nada como ver a coisa acontecer, bem diferente do aprendizado teórico.

  • Vi minha glicemia dar um salto após uma crise de raiva (!!)

  • Vi minha glicemia sistematicamente baixar e estabilizar com exercício fisico aerobico de moderada intensidade por 45 min

  • Vi minha glicemia dar um salto com alimentos de alto índice glicêmico

  • Vi minha glicemia aumentar entre 03h00 am e 07h00 am, o fenômeno do alvorecer que aponta a presença de resistência à insulina

  • Vi minha glicemia subir pouco após uma refeição cheia de fibra, e equilibrada

  • Vi que um quadradinho (20g) de chocolate 90% à noite não piora minha glicemia à noite

  • Vi que quando durmo mal, no outro dia minha glicemia está globalmente mais alta


E a troca do sensor?

Eu usei apenas 1 sensor, mas para aqueles que farão uso contínuo, é preciso trocar a cada 14 dias. Para retirá-lo, voce vai removendo a colinha do adesivo com óleo mineral e algodão em volta do sensor, depois só retirar o sensor, bem simples e indolor.

Atenção: o novo sensor deve ser aplicado em outro local, não no mesmo.


Custo:

O sensor não é barato, ~R$ 250 a cada 14 dias, isso quer dizer R$ 6.000/ano (preço de agosto de 2023) para os que vão usar de forma contínua. Indicação de uso contínuo vai para pessoas com diabetes tipo 1, gestantes com diabetes, diabetes tipo 2 de difícil controle. Esse valor é caro para a maioria das pessoas com diabetes no país, precisa baratear ou ser coberto por planos de saúde.


Para aqueles como eu, com pré-diabetes ou diabetes mais leve, que querem ter uma sessão educativa ao vivo, o custo cabe melhor, ja que a pessoa vai usar por um período curto de aprendizado e implementação de modificações. Desde 14 dias a 2 meses de monitorização, podem funcionar para esse objetivo.


O suporte técnico da Abbott é bom?

Achei bom, entrei em contato uma vez e fui provida das informações que eu precisava


Espero que esse post ajude a esclarecer um pouco sobre essa nova tecnologia.


Conflitos de interesse: nenhum


Vamos em frente! Xô diabetes


Eu sou Leticia Kawano Dourado

Médica pneumologista e pesquisadora clínica


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